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A letra escarlate

Beijar-te como se eu imprimisse um livro
de história natural, de contos cruéis, de geometria.
Reescrevê-lo, enterrando a nudez num pergaminho
no qual certo escriba deixou a sombra
do amor gravado em polpa, em noites e papiros,
quantidade de sedas e de papéis que se amontoam.
Violência de fazer, como na prensa,
o movimento e o sol que na cama se arrebentam.
Quem nos vai ler? Descobrirão?
Tábua de Esmeralda, Alcorão, Upanishad,
o que prefere o amor para ser lido,
Ars Amatoria, a frágil Sulamita e o Kama Sutra,
passou pelos olhos alguma nuvem ou marca-d’água?
Palavra impressa: feliz em tua vida.
Já nos amamos como se lêssemos. Encadernássemos.
Agora à nossa volta as páginas se soltam
e no lençol também solto então deitamos
um livro de voragens, um livro de vertigens.

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