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Apresentação de Christine Ajuz

Reduto de artistas, artesãos e intelectuais – defendido apaixonadamente por quem lá mora, atacado por gente que não o conhece bem -, Santa Teresa ganha, enfim, o guia sentimental que merece. E quem quiser se arriscar nas suas curvas e ladeiras encontrará em Felipe Fortuna o melhor cicerone: com olhos de fotógrafo e escrita de poeta, ele desvenda ao leitor detalhes geográficos, sociais e afetivos que descobriu na infância e adolescência – e nos envolve e emociona como se também fôssemos velhos moradores daquele bairro estranhamente belo, tão longe e tão perto.

Nesse seu Amarcord, Felipe ressalta a diferença de se viver em Santa Teresa. Em que outro lugar do Rio se encontra combinação tão charmosa entre topografia e arquitetura? Onde mais se viaja de bonde, toma-se elevador para alcançar o hall de entrada de um prédio, ou se mora no subsolo com direito a uma vista tão ampla e tão diversa? Num texto cinematográfico, o autor de Curvas, Ladeiras – Bairro de Santa Teresa nos faz sentir os ventos que sopram da barra e ajudam a manter a temperatura sempre mais amena que no resto da cidade; nos leva a saborear a paisagem que ele conheceu ainda menino pelas mãos e olhos de seu pai, o talentoso cartunista Fortuna, um dos fundadores do Pasquim; nos transporta às ruas mais íngremes onde aprendeu as técnicas corretas de inclinar o corpo, o jeito de pisar com a ponta do pé para descê-las, o ritmo perfeito para subi-las.

Diplomata, Felipe escreveu este livro em Londres como uma forma de se reconciliar com um tempo especialmente feliz – dele e da cidade do Rio de Janeiro. Em Santa Teresa, bairro cheio de estrangeiros e cercado de favelas, o autor estudou com meninos de sobrenomes complicados, jogou bola com moradores do Morro dos Prazeres e sacolejou no bonde entre figuras como Caveira, o maluco da região, Diabo, o bêbado, Cachimbo, o fiscal, e Orelha, o condutor, por ruas que ainda mantêm nomes deliciosos: Triunfo, Paraíso, Oriente, Monte Alegre, Progresso, Áurea, Aprazível. Recentemente, para checar dúvidas e conferir antigas impressões, ele voltou ao bairro e fotografou suas mais belas curvas, casas, árvores e ladeiras – pelas quais vai guiando o leitor num itinerário pessoal, bem escrito e inesquecível.

Christine Ajuz

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