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Cidade vazia

Silencioso viaduto sob a névoa.
E descobrir que deixei de amar
a solidão do tráfego, e até as mulheres
que decidiram morrer, sem bilhetes.
Andar nessa cidade é andar longe,
insistir os pés no asfalto, desconhecer as ruas
com nomes do Império, duvidar da grama dos jardins
com suas raízes de pedra.
Já não se ama mais, é verdade,
e alguns cachorros mijam indiferentes.
A poeira comeu a última pétala.
Caminhamos suspeitos pelas avenidas
sob a luz néon dos postes altos
num atropelado gesto de amor.
Fomos desvendando saudades
e agora a música dos passos
rasteja para o fim, diminuída.
Então por que comprar o jornal, dobrar as folhas já amareladas,
se às vezes esquecemos nossos nomes
e só dobramos sonhos, sempre sonhos,
como o lençol trocado da mesma cama?
Já não se ama mais, é verdade,
e é tarde para voltarmos para casa,
todas as ruas findaram seus caminhos,
e antigos sinais, sinais de pombas,
anunciam o mais vasto, longo silêncio
pelas calçadas.

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