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Ou vice-versa

para uma teoria da ambigüidade

1.
Vice-versa é desdobrar
o verso que eu escrevi
para sempre desconfiar
de tudo quanto esqueci.
Vice-versa é quase o avesso
do olhar que nasce sol-posto,
mas que – sem pressa – atravesso
contra o meu segundo rosto.
Vice-versa é este fruto
em minha contradição:
a fala que torna bruto
o espelho da sensação.
É o inverso do que digo:
calmaria ante o perigo.

2.
Vice-versa é claramente
ave através de outras aves
que perfura o sol nascente
com motor de terra e mares.
Vice-versa é reverter
uma órbita estudada,
o contrário de nascer
– não a morte: a caminhada.
Vice-versa é o outro lado
de um corpo a se desvendar:
um espaço controlado
com silêncio de radar.
Ou desprender-se da rima
que há na luz dentro de um prisma.

3.
Vice-versa é controverso,
palmeira inversa no chão.
Não é verso, é anti-, é versus,
como o sim dentro do não.
Vice-versa é tão somente
reunião de simetrias:
é tudo o que de repente
são passadas profecias.
Vice-versa é horizonte
em paisagens transversais:
é fonte que verte a fonte
de um instante, nada mais.
É miragem concluída:
retrato claro da vida.

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