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Poemas à distância

A
Há uma distância entre as coisas:
a cor das coisas, sobre a mesa,
não revela, não aparenta.

A maldição é terrível: se as coisas
desaparecem, a distância entre elas
permanece, gigantesca.

Então destruir as distâncias.
Mas de que modo, se o sonho as alimenta,
e as coisas e as distâncias se entrelaçam

até no instante em que me ausento?

B
A distância entre as coisas é um problema eterno.
Tu és coisa distante de Deus
e Ele é coisa distante do entendimento:
sou coisa distante de ti, ó corpo feminino,
e mesmo quando nos servimos em festa
é com nossa distância que nos divertimos.
Sensação e sabor: pura distância.
Horizonte e arquipélago: mesma coisa.
Quanta estranheza nos abraça
e, muito pior, quantas vezes já tentamos
abraçá-la – tudo porque estamos vivos
e a morte murmura uma palavra embaçada.

C
À distância, não vejo as coisas.
Estão longe até de minha distância.
Estou sozinho. Minha profissão
é ser distante, porém
distante como os fios elétricos e a oculta voltagem,
como o telefonema repousando no cabo submarino.
Entre uma distância e outra
apareço e já devoro – devoro, por exemplo,
a distância entre o assassino e o morto,
pois a distância é a despedida
mais duradoura, mais imunda e destrutiva.

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