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Resenha de Maurício Melo Junior

Correio Braziliense
Terça-feira, 10 de dezembro de 1991
IMPERFEIÇÕES DA PRESSA
Maurício Melo Junior

A efemeridade das notícias dos jornais deixa algumas interpretações apressadas tanto em que lê como em quem faz jornalismo. Isso, de certa forma, foi a preocupação que levou Felipe Fortuna a reunir seus artigos para órgãos da imprensa no livro A escola da sedução.

O livro, lançado pela mais nova editora gaúcha, a Artes e Ofícios, terá sua noite de autógrafos, hoje, a partir das 19h no Café Cassis, na 214 Sul.

São ao todo 16 artigos onde a poesia brasileira é esmiuçada em seus vários aspectos. Desde o humorismo em Olavo Bilac ao erotismo em João Cabral de Melo Neto, às novas concepções de linguagem de Marly de Oliveira. O curioso, entretanto, é que Felipe consegue dosar a sua própria linguagem que, sendo acadêmica e até erudita nas informações que transmite, mantém a dinâmica dos textos de imprensa. Mesmo assim não se livra se um certo pedantismo de citar no original autores franceses. Isso não teria maiores consequências se os textos não tivessem sido produzidos para jornais e direcionados para leitores comuns que querem absorver a plenitude do trabalho.

A escola da sedução, entretanto, retoma a importância da poesia brasileira à medida que a interpreta com novas abordagens. Ao mesmo tempo que dispa a imagem sisuda de um Olavo Bilac, revela que também no humor ou no erotismo foi brilhante e genial. Assim, sem ser iconoclasta, diz como é possível manter-se duplo. E aí desdiz outro mito. A de que os poetas simbolistas não trabalhavam.

Esta é basicamente a tônica geral do trabalho de Felipe. Desfazer equívocos com a tranquilidade de quem carrega nos ombros a responsabilidade de saber do que está falando. Uma responsabilidade que o leva a recriar conceitos que só revigoram os antigos à medida que oferece novas cores e maiores brilhos.

Felipe Fortuna se apresenta como um analista certo da possibilidade de ser crítico sem ser vazio.

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