facebook

Trecho do prefácio — Louise Labé

Calvino chamou-a de plebeia meretrix. Alguns textos divulgados tanto à sua época quanto séculos depois não hesitavam em se referir a ela como cortesã. Ela mesma, no último de seus sonetos, pedia às Dames da cidade de Lyon que se preocupassem mais em amar do que em maldizer quem era amada. Sem dúvida, dois estigmas estão presentes na poesia de Louise Labé (1522-1566): o amor e o lamento. A poeta francesa, que poderia ter sido o exemplo maior do platonismo amoroso na Renascença francesa, não permitiu que a moda literária traísse a sua vida de mulher apaixonada: é a sua vida amorosa, portanto, o que lemos em sua obra.

Os 24 sonetos de Louise Labé expõem e agravam os paradoxos do sentimento amoroso. E são muito mais intensos e confessionais do que os sonetos escritos no molde muitas vezes artificial do petrarquismo.

O amor confessado por Louise Labé nas suas três elegias tende à aniquilação, à loucura e à morte. Os versos desvendam a desrazão amorosa de alguém que encontrou no amor sua única razão. O expressivo realismo das três elegias não condiz com qualquer idealização do objeto amado: sente-se que a escritora clama e suplica pela presença do homem que ama, e seus suspiros são profundamente erotizados.

O confronto entre a loucura e o amor, tal como idealizado por Louise Labé, deu-lhe a oportunidade de comentar com ironia e ceticismo muitos temas de sua época. Apesar de ser mais conhecida por seus sonetos e elegias, Louise Labé retratou na sua única obra em prosa uma percepção sobre a razão e a desrazão que ainda imprssiona. O Debate de loucura e de amor foi provavelmente escrito em 1552.

Print Friendly